Hospital

-É por isso que gosto de vocês as duas, as outras oferecem-se logo - disse com uma careta, desabando um bocado. Fechei os olhos por estar tão cansado e apertei-lhe a mão quando comecei a sentir umas coisas esquisitas no joelho - ele vai rebentar - choraminguei, eu era muito exagerado, mas no que tocava a estas coisas, eu detestava pedir ajuda por saber que algumas pessoas iam logo ficar todas cuidadosas comigo, mas agora era impossível não me queixar.

Soltei uma gargalhada com o que ele disse e encolhi os ombros. Eu nunca me ia oferecer, quer dizer, no meu trabalho tinha de o fazer mas fora disso eu era uma rapariga que dificilmente se dava com as pessoas. Problemas de confiança, necessidade de estar sozinha, trauma por perder pessoas que amava, tudo isso fazia parte da minha vida. Cheguei-o mais para mim assim que se queixou e deitei a cabeça do Josh no meu ombro enquanto lhe fazia festinhas no cabelo com a mão a que ele não estava agarrado - Não penses nisso, continua a falar comigo para te distraires.

Fechei os olhos quando senti as suas festas no meu cabelo, bastava aquilo para me distrair e podia ser extremamente esquisito mas só o meu irmão criança é que me fazia aquilo. -Eu nasci na Alemanha sabias? - perguntei já que não tinha outro assunto para falar com ela - tenho descendência dos mauzões, por isso é que sou mauzão. - ri-me da minha estupidez.

Parei de lhe fazer festas quando o ouvi falar mas continuei logo a seguir, rindo-me do que o Josh tinha dito - Alemanha? - repeti - Isso deve ser giro, eu nunca sai daqui. - disse com um encolher de ombros - Antes dos meus pais morrerem íamos fazer todos uma viagem a vários sítios, Alemanha, Irlanda, Paris, Austrália. Mas depois não aconteceu. - cheguei-me mais para ele, continuando com as festinhas - E não és mauzão, és parvo. - disse com um sorriso.

Assenti com a cabeça quando me perguntou se era da Alemanha mas logo abanei a cabeça com o que ela disse - não é nada giro quando a tua mãe é uma mulher do século passado, maluca e mais exigente que uma professora velha do primário - a minha mãe ainda era pior do que eu dizia. Mordi o interior da bochecha quando ela falou dos pais - Um dia eu levo-te à Alemanha, mas aviso-te já que não vais gostar. - sorri. - Eu sou um estúpido. - disse muito sinceramente.

- Acredito. - disse apenas meio distraída. Os meus pais nunca tinham sido demasiado exigentes, sabiam o que era o melhor para mim e para os meus irmãos e explicavam-nos o porquê mas tentavam sempre arranjar maneira de nós percebermos o ponto de vista deles e aceitavam o nosso. Com o meu tio não era bem assim, tanto que estava a fazer uma coisa que nunca na minha vida tinha pensado fazer por causa de uma ameaça. Sorri quando ouvi o Josh dizer que me levava à Alemanha - Vais levar-me? - perguntei divertida - Não te preocupes, não vejo mal nenhum em nunca ter saido daqui. - cheguei-me mais para ele e revirei os olhos - Agora estás é a ser um mariquinhas mas continua a falar da Alemanha. - pedi para o manter distraído.

Levantei o olhar para ela quando percebi que se estava a ouvir o que lhe dizia estava muito distante, mas decidi não comentar ficando apenas com a cabeça encostada a ela e de olhos fechados. - Vou, eu rapto-te e levo-te na minha mala - brinquei com um encolher de ombros como se isso tudo fosse super normal - eu gosto de Las Vegas, mas só estou aqui de férias - disse ainda com os olhos fechados - não há nada de especial na Alemanha - comentei - a não ser a neve no inverno. Eu até gosto.

Ri-me com o que o Josh disse e assenti com a cabeça - Está bem, eu vou encolhida na tua mala. - continuei encostada a ele a passar os dedos pelo seu cabelo para o tentar distrair do que se estava a passar com o joelho. Nem acreditava que estava ali encostada a ele, com ele ou o que quer que fosse mas ultimamente até tinhamos feito coisas juntas, como quando eu o levava a casa por ele estar demasiado bêbado. Não era nada de outro mundo mas era muito mais do que eu fazia normalmente com um rapaz, um rapaz, não um cliente - Então rapta-me para a Alemanha no inverno.

Mordi a parte de dentro da bochecha com força fechando os olhos da mesma forma, apostava que o me joelho já estava a voltar ao normal e quando ele começava a ficar sem sangue alojado a dor tornava-se mais forte. Tossiquei virando a cabeça para ela - não digas isso muita vez que já faltou mais e eu sou capaz de o fazer - eu não estava de férias na altura alta do verão, estávamos a entrar no outono e já tinha faltado mais para o inverno.

Cheguei-o mais para mim quando percebi que estava com bastantes dores e encostei a cara do Josh ao meu pescoço para que não conseguisse olhar para o joelho. Sorri com o que ele disse e continuei com as festinhas no cabelo dele - Já estiveste mais longe de me raptar? - perguntei com um meio sorriso - Não sabia que andavas a pensar em mim de forma tão tarada, Joshua. - não podia negar, era giro provocá-lo apesar de ele fingir sempre que não o afetava, como quando dizia que não gostava de me ouvir cantar. Ele irritava-me mas da maneira que estava agora, só conseguia ter pena dele.

Abri os olhos ao senti-la mover a minha cabeça e quando a abri já estava a olhar o seu pescoço, onde também conseguia sentir melhor o seu cheirinho. Aproximei-me mais dela, não propositadamente e encostei a testa ao mesmo ficando de olhos fechados - não cabeça oca, já faltou mais para o inverno - brinquei com um sorriso que ela não conseguia ver. Revirei os olhos quando me chamou de Joshua - não me chames isso - reclamei.

Encostei a minha cabeça à dele assim que se ajeitou melhor e ficou com a cara mais encostada à curva do meu pescoço. Ri-me quando ele disse que faltava pouco para o inverno e não para me raptar e assenti com a cabeça - Então de qualquer das maneiras, estás quase a raptar-me para me levares na tua mala e ir ver o inverno na Alemanha. - disse-lhe com um sorriso. Quando ele começou a reclamar por lhe ter chamado Joshua, não consegui não me rir - Mas é o teu nome. E é sexy chamar-te Joshua, ainda mais porque te irrita.

-E tu estás desejosa. Tenho que te arranjar um nome irritante qualquer, vais ver o quanto é irritante - ri-me baixinho e afastei a cabeça do seu pescoço, não por me ter chateado ou por não querer, a enfermeira tinha chegado ao pé de nós para mudar os tabuleiros já cheios de sangue. - uau - murmurei passando os dedos pela cabeça.
-Precisas de receber sangue durante uns bocado, esse joelho estava uma bomba. - disse-me ela.
-O quê? Mas eu quero ir para casa - queixei-me de olhos fechados, apenas com a cabeça encostada a Heather. Levantei a cabeça e encolhi os ombros, queixar-me não adiantava - podes ir, agora não vai doer e tens que dormir.

Ri-me com o que ele disse e encolhi os ombros - Boa sorte com isso Joshua. - olhei para a enfermeira quando voltou a aparecer no quarto e ouvi com muita atenção o que ela estava a dizer ao Josh. Revirei os olhos quando ele disse que eu podia ir para casa e voltei a colocar a cabeça dele no meu ombro - Não me vou embora daqui até ter a certeza que estás bem e depois vais como para casa? É melhor não conduzires já por isso mais uma vez vou ter de ser tua motorista. - disse com um encolher de ombros e deixei-me estar sentada onde estava sem me mexer nem um milimetro.

Revirei os olhos quando disse que não se ia embora, não que eu quisesse que fosse, porque não queria - vais chegar morta amanhã, depois não te queixes, isto ainda deve melhorar - disse vendo outra enfermeira fazer-me um penso no joelho e a colocar-me a receber sangue - e tecnicamente eu estou melhor, elas é que gostam de gastar sangue em mim - sorri convencido e aconcheguei-me dela com um suspiro cansado - e vou dormir, não sou muito boa companhia assim

- Não faz mal. - já estava habituada a dormir pouco e a não me sentir bem no trabalho por isso não fazia grande diferença. Odiava aquilo que fazia mas o que é que podia fazer? Tinha de continuar pela minha irmã - Cala-te e dorme. - disse com um revirar de olhos, voltando a fazer-lhe festinhas no cabelo quando o Josh se aninhou a mim e olhei para a enfermeira que continuava a tratar do joelho dele e a dar-lhe mais sangue. Ainda bem que o tinha trazido ao hospital porque aquilo estava horrível antes.

Eu sabia que fazia mal, mas não ia insistir com ela, não queria que ela fosse no fundo mas também não queria que ela pensasse que a estivesse a mandar embora. Levantei o olhar para ela dando-lhe um leve beijo no maxilar e encostei-me todo a ela. - acorda-me quando estiver pronto - murmurei baixinho sentindo-me adormecer aos poucos.

Juntei as sobrancelhas de admiração quando ele me beijou o maxilar e mordi o interior da bochecha. Não lhe queria dar demasiada proximadade antes que ele achasse que eu fosse como as outras porque não era difícil de perceber que ele se andava a divertir à grande no bar. Todas elas falavam sobre o Josh e sobre as coisas que tinham feito com o Josh. Era isso que achava nojento, elas falarem todas por terem feito sexo com o mesmo homem e não parecerem minimamente preocupadas. Não queria que ele pensasse que eu também era só preciso um bocadinho de conversa e tinha o que queria, porque nunca na vida. Olhei para a enfermeira quando a vi sorrir e tirar as coisas todas ao Josh - Ele já está pronto, vou deixar que seja você a acordá-lo que sempre é melhor ser a namorada do que a enfermeira.
Fiz uma careta e ia dizer que não era a namorada mas ela já tinha virado costas. Abanei ligeiramente o Josh - Josh. - chamei - Já está, vamos embora.

Estava a dormir tão bem, sempre que perdia sangue em grandes quantidades o eu sono era mais pesado que o normal e detestava acordar, porque me sentia sempre enjoado por causa de receber sangue. Fiz uma careta enjoada encostando ao corpo quente de Heather e suspirei. - Estou a acordar - murmurei abrindo os olhos devagarinho e sorri-lhe levemente já sentado. - Não dormiste pois não?

- Ainda bem, temos de sair daqui porque eu tenho de te levar a casa. - disse-lhe enquanto me afastava dele e saia da maca onde tinha estado sentada com ele ao meu lado. Agarrei no casaco do Josh para que o vestisse e se preparasse para sairmos do hospital e abanei a cabeça - Não, não tenho sono por isso não faz mal. - encolhi os ombros e estiquei o casaco para ele para que o vestisse - Tu é que precisas de descansar como deve ser depois disto tudo. - voltei a aproximar-me do Josh para colocar um braço à volta do tronco dele e o ajudar a andar para fora do hospital até ao carro dele.

Fiquei sentado sem fazer qualquer movimento brusco enquanto olhava o chão, tentando acalmar o meu estômago e só quando me senti preparado é que fui para o chão não apoiando a perna do meu joelho magoado no chão. Agora ia doer umas semanas, mas ia ser tolerável. Vesti o casaco que ela me deu e olhei-a - não deves ter sono não - resmunguei baixinho - eu só preciso de dormir um bocado até à hora de trabalhar - já não ia poder ir tomar um café com Angela.

Coloquei melhor o meu braço à volta dele para o ajudar a caminhar para fora do hospital e revirei os olhos quando o ouvi reclamar - A sério, não te preocupes comigo, eu estou bem com pouco sono. - encolhi os ombros e abanei a cabeça quando o ouvi - Nem penses, tu não vais trabalhar neste estado. - disse logo - Eu falo com o meu tio e ficas uns dias em casa a descansar, estás demasiado mal para ires trabalhar. - voltei a revirar os olhos e assim que chegámos ao estacionamente, ajudei-o a subir para o carro e sentar-se.

Abri o carro para me ir sentar antes de dizer seja o que fosse e esperei que ela se viesse sentar ao meu lado - eu tenho que ir trabalhar, ele disse que tinha que estar sempre disponível, nem sei como é que tenho folga - encolhi os ombros. - Não preciso de uns dias para ficar bem, amanhã isto já não é nada - garanti-lhe.

Sentei-me no lugar do condutor e revirei os olhos - Mas eu falo com ele e faço a tua parte do trabalho. Ele agora mal vai ao bar, por isso nem ia dar pela tua falta. - disse com um encolher de ombros - Precisas de descansar Josh portanto pára de ser chato e fica uns dias em casa. - coloquei o cinto de segurança e arranquei do parque de estacionamento do hospital em direção a casa dele uma vez que já sabia o caminho de cor depois de o ter levado lá tantas vezes - Está bem? - perguntei com um suspiro cansado.

Apesar de toda a sua insistência não me apetecia ceder ao seu pedido, podia não ir trabalhar, mas ia lá apenas por estar, não queria que ela fizesse coisas a mais, trabalhar em dois sítios ao mesmo tempo era complicado. - Mais ou menos - murmurei olhando-a - estás com pessimo aspecto - disse sabendo que devia estar igual ou pior.