Sala de Estar

- Ahahah, tenho as minhas dúvidas, meu caro amigo. - guinchei assim que ele me bateu na perna e voltei a pintá-lo com tinta. Desta vez foi na sua bochecha. - Ninguém mandou começares, seu porco!

- Se fosse chantilly, teria todo o prazer em fazer.. mas não é. - disse as últimas palavras num tom bem mimadas e voltei a pintar a parede. - Vais ter que limpar sozinho.

Afastei-me ligeiramente dele e tentei ao máximo, resisti-lo. - Para seguires em frente, tens que deixar de dizer isso.. amo-te.. - apesar de gostar imenso de o ouvir dizer. Não queria de jeito nenhum, que ele parasse de o fazer.

Tateei todo o seu peito, que agora estava sujo de tinta e sorri abertamente. As suas palavras simplesmente, deliciavam-me. - Mas assim não estás a seguir em frente. - fiz uma careta. E não era isso que ele praticamente me tinha dito? Que também tinha de seguir em frente?! - E quando arranjares uma namorada? Vais continuar a dizer-me isso?! - olhei-o nos olhos. - E quando voltares a estar com a Katra?!

Ele dizia que me amava e no entanto nem estávamos juntos. Sabia bem as razões e os porquês, mas não me conformava. Uma hora estávamos na cama, noutra, éramos simples amigos. E não iria de certa maneira, aguentar muito aquilo. - Faz o que quiseres. - suspirei.

Eu é que sabia.. Que haveria eu de lhe dizer, se adorava, quando ele dizia que me amava?! Suspirei. Levantei-me e peguei no rolo, voltando a pintar a parede. Era o melhor que tinha a fazer.

Eu odiava aquele silêncio, mas também não ia dar parte fraca. Talvez até fosse melhor, nos esquecermos e continuarmos a ser melhores amigos. Iria ser difícil, mas parecia ser mesmo o melhor. Entretanto, as horas foram-se passando e acabei de pintar a parede.

Olhei-o quando o ouvi grunhir e encolhi os ombros. Estava tão cansada que acabei por me sentar no chão e seguidamente, me deitar no mesmo. Tive vontade de o chamar, mas não ia falar com ele. Apenas fiz sinal com a minha mão. Estava de greve de fala, não de gestos.

Minutos depois de se ter deitado ao meu lado, rastejei praticamente para cima dele e abracei-me ao seu corpo. Aquele silêncio incomodava-me um pouco, mas eu achava que era melhor assim. Nenhum de nós falar e não dizermos coisas, que depois o outro ia entender mal.

Beijei a sua face e apertei-o contra o meu corpo. Gostava imenso de estar nos seus braços, principalmente, naqueles momentos. Farta de estar calada, acabei por quebrar aquele silêncio, com uma simples pergunta. - Amanhã vens-me ajudar, ou vais estar ocupado? - não o estava a controlar. Apenas queria saber com o que contar. Não ficaria magoada se ele tivesse outras coisas para fazer.

Depois daquilo, o ambiente acabara por suavizar. Suspirei mais contente e sorri timidamente. - Isso é bom. - passei as mãos pelo seu peito. Adorava aquele seu sorrisinho. Fechei os olhos quando me beijou a testa e só depois lhe respondi. - Podes vir às horas que tu quiseres.

Na parte da tarde com toda a certeza que iria estar em casa. Fiz beicinho. - Não vás trabalhar hoje, por favor.. fica aqui comigo. - fiz uma careta. Fazia imenso tempo que não estávamos juntos. Bom, pelo menos, no sentido de amizade e isso tudo. - Se for preciso, eu pago-te para me fazeres companhia. - estava a brincar, mas se fosse preciso, eu faria-o. Não queria de maneira nenhuma, prejudicá-lo no seu trabalho.