Quarto dos rapazes [R/c]

-Ainda não estás arranjado? - Perguntou-me Carly que já estava toda preparada. Apenas estava aqui à algumas semanas e parecia que já estava habituada a isto tudo. Eu estava aqui há um ano e tudo ainda parecia um pesadelo e não a realidade.
-Estou com esperanças que a Lynn me dê folga hoje - disse agarrando-me às minhas pernas. Olhei-a - não podes estar aqui. - Nenhuma rapariga podia entrar no quarto dos rapazes e nenhum rapaz podia entrar no das raparigas, eram regras da Lynn para nos impedir de nos relacionarmos. Ela encolheu os ombros e deu meia volta.
-Está toda gente lá em baixo, é melhor começares a descer. Hoje é noite de gajas. - Ela fez uma careta começando a descer as escadas até à cave. Arrepiei-me só de pensar e tirei a camisola sem vontade nenhuma. Levantei-me para ir vestir as calças, sim, porque era a única coisa que usava  quando Lynn apareceu no meu quarto.
-Hmmm, acho que hoje vais ser meu querido - disse fechando a porta.
-Pagas? - perguntei num tom cínico. Ela revirou os olhos e aproximou-se de mim.
-Eu sou a tua patroazinha, preciso de te pagar para fazer o que quer que seja?

- Rachel, acorda, estou a ouvir barulhos.- fiz uma careta, resmungando baixinho por estar a despertar a agarrei-me mais não sei a quê, só percebendo depois que era a almofada.- ouviste? Acorda.- é que nem quando eu estava a dormir ela me dava descanso. Remexi-me assim que me senti acordar aos poucos e enfiei mais a cabeça na almofada.
- O que foi? - perguntei abafada.
- Estou a ouvir barulhos lá de fora.- ela murmurou num tom baixo, o que me fez sorrir toda trocista.
- Quê, não me digas que estás com medo.- ri-me baixinho.- acho que afinal quem tem medo do bicho papão és tu.- adorava quando conseguia inverter os papéis.
- Cala-te.- ela resmungou e visto que já estava acordada, eu acabei por me levantar. Estava com forme, sentia-me a desfalecer. Ia procurar pelo rapaz e pedir-lhe que me desse comida, depois disso, ia embora. Calcei as minhas sapatilhas, passando as mãos pelo cabelo e saí do quarto devagar, descendo depois as escadas. Arregalei os olhos mal um rapariga passou por mim, praticamente nua e dei por mim a pensar que espécie de sítio era aquele. Se não fosse pela fome, eu já tinha mesmo desaparecido dali. Continuei a deambular por ali, visto que ainda estava sonolenta e só parei quando quase fui contra uma porta. Endireitei-me, esfregando os olhos e bati.

Ela agarrou nas minhas mãos pousando-as na sua cintura e obriguei-me a puxa-la para mim. - Sim, precisas de pagar. - disse-lhe afastando-me. Lynn revirou os olhos.
-Como se o dinheiro depois não fosse todo para mim - disse ela colocando as mãos nos meus ombros aproximando o seu corpo do meu, eu sabia que por baixo daquele robe ela não tinha nada. Ia defender-me quando ouvi baterem à porta ao mesmo tempo que ela despia o maldito robe, fazendo-me olhar para a mesma. Afastei-me de Lynn sentando-me na cama, nem me ia dar ao trabalho de vestir já que ia acabar nu de qualquer maneira. Ela olhou-me à espera que fosse eu, mas acabou mesmo por ir ela, abrindo a porta com uma cara nada simpática.
-O que foi? - perguntou. Espreitei para ver quem era e arregalei os olhos ao ver a rapariga. - O que foi? - perguntou Lynn tossicando, para tentar não ser tão agressiva.  - Pensava que estavas a dormir.
-Ela tem fome - tentei adivinhar.

Estavam a demorar tanto tempo a abrir que eu começava a pensar que não estava ninguém ali dentro.
- Estou a ouvir vozes.- disse Daph, fazendo-me revirar os olhos.
- Que engraçado, eu também.- ironizei.- e vêm mesmo da minha cabeça.
- Não é isso.- ela resmungou.- está gente dentro do quarto.- endireitei-me, voltando a olhar para a porta e arregalei os olhos quando abriram de repente. Era aquela mulher outra vez. 
- Eu..- face àquela arrogância, eu nem sabia muito bem o que dizer.
- Eu não acredito! - Daph guinchou de repente, fazendo-me encolher.- ela está aqui com ele.- fiz uma careta, não percebendo mas assim que desviei o olhar, vi o rapaz de à pouco sentado na cama.- porque é que ela está aqui? Eu já disse que...oh meu deus, ele está sem camisola.- ela estava tão histérica que eu já estava de novo cheia de dores de cabeça.- o que eu fazia com ele.- abanei a cabeça, respirando fundo e voltei a concentrar-me neles, tentando ignorá-la. 
- Eu queria perguntar se me podiam dar alguma coisa para comer.- disse baixo.- preciso de ir embora.

Estiquei-me às minhas calças vestindo-as e fui até à porta ter com Lynn e a rapariga. Ela era no minimo estranha, mas devia ter as suas razões. Quando olhei para Lynn vi-a sorrir o que me fez suspirar, ela estava mesmo condenada.
-O...
-Eu vou dar-te comida - interrompi Lynn e afastei-a da porta para que me deixasse passar. 
-Não podes ir logo embora querida, vais dormir, precisas de descansar, estás com um aspecto terrível. - Abanei a cabeça pousando uma mão no ombro da miúda.
-Anda. - murmurei fazendo-a ir até à nossa cozinha.

- Oh não, para que é que te estás a vestir? - ela estava completamente vidrada nele, conseguia ser pior do que com os outros. Sinceramente, não sabia o que é que ela tinha visto de diferente. Era girinho, mas eles eram todos iguais, já nem valia a pena. Tentei abstrair-me dela, para conseguir perceber o que eles me diziam e levantei as sobrancelhas quando a mulher continuou a teimar que eu tinha de ficar ali.
- Mas eu já dormi.- murmurei, sendo empurrada pelo rapaz.- porque é que ela quer que eu fique aqui? - perguntei, olhando-o por cima do ombro e assim que voltei a olhar para a frente, passou de novo uma rapariga, quase nua.- que espécie de lugar é este? - eu juro que começava a ficar mesmo assustada.

Ainda ouvi o que ela me tinha dito, mas não lhe quis responder. Não podia dar-lhe respostas, quem dava era Lynn e sim, toda a gente tinha medo dela. No início é normal enfreta-la, mas quando se começa a perceber que ela consegue tudo o que quer, começa a ser diferente. Abri a porta do meu quarto e olhei para ela, que estava a ler uma revista cor-de-rosa na minha cama.
-Eu não consigo fazer isto hoje - disse fechando a porta sentando-me na cama oposto à dela. Ela levantou uma sobrancelha mandando a revista para o chão e veio na minha direcção sentando-se no meu colo.
-Veremos - disse com um sorriso.

Era agora. Só precisava que toda a gente estivesse distraída e podia finalmente ir embora daquele lugar.
- É que nem penses.- e pronto, ela tinha de falar.- eu não quero ir embora daqui. Ele está aqui e ao menos temos comida e cama, eu não quero voltar para a rua.- revirei os olhos.
- Há mais rapazes, vais poder deliciar-te com todos eles e eu prefiro dormir no meio da rua do que nesta casa de malucos, tu viste bem aquela mulher? 
- O que é que tem? Eu gostei dela.- e lá estava eu a imaginá-la a encolher-me os ombros.
- Claro que gostaste, é tal e qual como tu.- sorri cinicamente e levantei-me sem sequer lhe dar tempo de reclamar. Eu ia embora e era agora. Já tinha esperado uns minutos.
- Tu vais arrepender-te disto Rachel, não vais encontrar um casa tão cedo.- olhei em volta, assegurando-me de que não me tinha esquecido de nada e fui até à porta, abrindo-a com cuidado.
- Já te disse que prefiro qualquer coisa a este lugar.- enfiei o carapuço na cabeça, descendo as escadas e só parei à porta, olhando para trás para verificar que ninguém tinha dado por nada. Abri-a, sorrindo ao sentir o fresquinho da noite e preparei-me para sair. Para maluca, já bastava eu, não precisava de viver num sítio ainda pior.

Lynn estava satisfeita, via-se pela cara dela. Revirei os olhos deixando a minha cabeça cair na almofada e abracei-me à mesma. Não sabia se era melhor trabalhar lá em baixo ou satisfazer-lhe as vontades. Pelos vistos o preferido era sempre eu, nunca a tinha visto com outro.
-Ouviste isto? - perguntou Lynn fazendo-me levantar a cabeça para a olhar.
-Sim, nos meus sonhos, podes pelo menos deixar-me do...
-A porta - ela levantou-se num salto, vestindo o seu robe. Sentei-me ficando a olha-la com uma expressão confusa, só depois me lembrando da rapariga. Engoli em seco abanando a cabeça.
-Não, deve ser do cansaço, anda - puxei-a para a cama. Se ela estava a tentar fugir que fugisse mais discretamente, tinha logo que ser pela entrada?
-Não, larga-me - disse ela - a outra está a tentar escapar - disse indo em direcção à porta do quarto. Só tive tempo de vestir uns boxers aos acaso indo depois atrás dela, ainda a tentei impedir, puxando-a pelo braço, mas ela não fui rápido o suficiente. -O que é que estás a fazer?

Estava mesmo prestes a sair quando ouvi uma porta abrir-se e a voz da mulher soar por todos os lados. Dei um salto, virando-me para ela de repente e devia estar a olhá-la de olhos arregalados por causa do susto. Mas como é que ela tinha ouvido? Eu tinha tido cuidado.
- O que é que ele está a fazer de boxers atrás dela? - Daph guinchou.- com uma carinha e um corpo daqueles, pensei que tinha um gosto mais requintado.- ela resmungou.- aquela mulher nem levantá-lo deve conseguir.- ela não existia, de todo. Endireitei-me, tentando desfazer-me do meu ar assustado e olhei a mulher, encolhendo os ombros.
- Estou a ir-me embora.- murmurei decidida.- obrigada pela cama e pela comida, mas já não preciso de mais nada.

Levei as mãos ao cabelo virando-me de costas para elas e estava mesmo a ir de novo para o quarto quando ouvi Lynn gritar.
-Não precisas? - perguntou. Ela passava-se sempre que tentava fugir. - Não precisas de uma casa? Eu estou a oferecer-te uma casa. Henry vem cá, nem penses abandonar-me! - guinchou fazendo-me ir até elas de novo, com um suspiro.

Entrei no meu quarto subindo para a minha cama, que tanto podia ser a de cima ou a de baixo, visto que éramos apenas dois e olhei para Brenda mal entrou abanando a cabeça. - Não, só não gosto de falar sobre isto - disse apenas olhando-a. - Não podes estar aqui, é um quarto só de rapazes.

Ia entrar no mesmo quarto que ele quando o ouvi dizer-me que não podia. Arregalei os olhos, parando do outro lado da porta e encostei-me à ombreira da mesma, encolhendo-me ligeiramente.
- Porque é que não posso? - perguntei com uma careta.
- Não ouviste? Ele disse que era por ser o quarto dos rapazes.- ela resmungou.- o que, diga-se de passagem, eu acho muito mal.
- Para onde é que é suposto eu ir agora? - perguntei.- e desculpa ter falado naquilo, eu não sabia.- disse baixinho com um suspiro.

Ia repetir o que lhe tinha dito sobre o quarto ser de rapazes, mas ela pareceu perceber antes de lhe explicar de novo.  Encolhi os ombros descendo as escadas e fui ter com ela apontando-lhe para o quarto das raparigas - aconselho-te a descansar. Não vais dormir nada à noite - fiz uma ligeira careta.

Fiquei a vê-lo descer da cama para vir ter comigo de novo e fiz uma careta. Isso queria dizer que só podíamos estar em conjunto na sala e na cozinha? Qual era o mal? Se nos íamos envolver com estranhos, porque é que não nos podíamos envolver com os nossos colegas?
- Nunca pensei dizer isto, mas concordo plenamente contigo.- arregalei os olhos. Não que eu planeasse ter alguma coisa com algum. Olhei na direcção em que ele apontava e assenti, olhando-o depois.
- Sim, eu vou fazer isso.- só de pensar em ''logo à noite'' eu tinha um ataque.

Espreitei para a zona da cozinha, eles estavam a arrumar aquilo e talvez também fossem descansar, ou então, preparar as coisas para logo  à noite. - Não é exactamente proibido estar aqui - acabei por saber - não seria a primeira vez, mas se a Lynn te encontra és castigada - encolhi os ombros agarrando na porta.

Estava prestes a virar costas para ir para o quarto quando ouvi Henry falar. Parei, virando-me de novo para ele. Estava decidido, aquela mulher não batia bem, de todo. Eu acho que ainda não tinha caído bem em mim, porque estava demasiado calma para quem ia ter de viver numa casa de prostituição, estava a estranhar ainda não me ter dado nenhum ataque. Sem contar com o da noite passada.
- Sou castigada? - murmurei.- o que é que ela me faz? - arregalei ligeiramente os olhos.

Mordi o interior do lábio e encolhi os ombros - não vais querer saber - disse voltando a dar uns passos para trás vendo Hugh entrar no quarto. Já não ia ter sossego, ele conseguia ser chato quando queria - vai descansar - agarrei-me à porta. Precisava mesmo de dormir mais, apesar de ter dormido melhor que os outros dias.

Juntei as sobrancelhas com o que ele me disse. Era assim tão mau? Mordi a parte de dentro da bochecha, tentando não começar a imaginar coisas e tive de me afastar ligeiramente quando um dos rapazes que estava connosco na piscina entrou no quarto.
- Se calhar obriga-te a teres uma noite com ela.- Daph gozou, mas só de imaginar, eu não conseguia ver onde é que estava a graça. Voltei a concentrar-me em Henry e acabei por assentir ao que disse.
- Sim, eu vou fazer isso.- murmurei.- até logo.

Fechei a porta assim que disse que ia descansar e subi para a minha cama olhando para Hugh que estava de olhos fechados. Suspirei por me dar descanso e agarrei-me às almofadas ficando ligeiramente encolhinho contra as mesmas na minha cama. Eu não me andava a sentir nada bem ultimamente.

Assim que as coisas estavam todas preparadas, Lynn desceu do seu sono de beleza e pediu o dinheiro, dei e o meu e o suposto de Rachel, dizendo que ela não estava muito bem e foi para o quarto e ela lá resmungou mas não fez nada. Suspirei quando nos mandou para o quarto e da maneira como me olhou ainda pensei que me fosse pedir festa, mas não, ela deve ter percebido que eu estava mesmo cansada. Quando eu e Hugh chegámos ao quarto nem me atrevi a subir para a cama de cima, deitando-me logo no debaixo.

A minha cabeça doía, o meu corpo doía, eu só pensava que isto não fosse aquilo que eu estava a pensar, isso não. Isso seria mau de mais, mas a culpa era da Lynn que não queria ouvir-me. Hugh ainda me perguntou o que é qu se passava mas eu só respondi numa voz bastante rouca nem sem bem o quê, adormecer em poucos segundos depois.

*Hugh*
Apenas lhe sorri esperando que entrasse no quarto e depois de ter fechado a porta e lhe ter dito boa noite fui até ao meu quarto deitando-me de novo na cama e em pouco tempo adormeci.

*Henryzinho*

Sentei-me na cama passando as mãos pelo cabelo e encostei a mesma à parede, não conseguia dormir mais, não me sentia nada bem. Tinha que voltar a insistir com Lynn para ir comigo ao médico pelo menos, mas ela nunca acreditava em mim e dizia que era uma mentira para eu ficar de folga durante um dia.

Deitei-me na cama com a cabeça a latejar assim como a minha barriga e deitei-me em posição fetal agarrado a mim próprio. Ppara além disto tudo estava enjoado, mas se precisasse de vomitar nem tempo tinha de ir à casa de banho. - Anda lá Henry- bati-me a mim próprio nas bochechas - tens que ficar bom. - respirei fundo e sentei-me gemendo com a dor.