Tahoe Canyon St

Tinha ido pagar umas contas e voltava para casa a pé, e por acaso já tinha anoitecido e eu nem tinha dado pelas horas e quando me apercebi comecei a andar em direcção a casa, até que alguém me agarrou no ombro e me fez voltar para trás, era James, o meu ex namorado que não tinha aceitado muito bem a nossa separação... Estremei e baixei o olhar.
- O que queres? - perguntei pouco depois subindo o olhar até ele.
- Que te afastes do rapaz com quem andas ultimamente. - respondeu-me num tom agressivo.
- Ele é meu amigo, qual é o mal? - respondi-lhe torto, coisa que não devia ter feito porque ele aproximou-se logo e agarrou-me o braço com tanta força que até me fez gemer baixinho.
- Não era isso que parecia ontem na discoteca. - resmungou e eu não disse nada. - Acabaste comigo não te quero com mais ninguém. - disse pronunciando bem a palavra ninguém.
- Mas... -  tentei falar mas ele não me deu oportunidade para fazer tal coisa.
- Mas nada, se te vejo mais com ele acabo com ele e contigo, agora fica como quiseres. - ameaçou e automaticamente foi embora.
Acelerai o passo e tentei chegar a casa o mais depressa possível.

- É claro que não tens de ter ciúmes da minha mãe! - Ri baixinho e dei-lhe a mão, começando a caminhar com ela - Estou meio nervoso..

Dei-lhe a mão e sorri-lhe.
- Hey, vai correr tudo bem. - beijei-lhe a bochecha carinhosamente.

- Eu não sei.. Estou apenas com um mau pressentimento, só isso.. - Murmurei, beijando depois a sua mão, continuando a caminhar com ela

Sorri-lhe.
- Mas está tudo bem e vai continuar assim.
Avistei ao longe um edifício branco rodeado de grades altas e arame farpado.

Assenti e continuei a caminhar, olhando apenas os meus pés a calcar o chão cinzento. Ergui depois a cabeça, olhando o edifício enorme, branco, à minha frente. Respirei fundo e tirei a minha carteira do bolso ao chegar à entrada do edifício

Encostei-me ao braço dele enquanto nos aproximávamos da porta.
- Isto tem muita segurança... - disse baixo.

- Sim.. É normal.. Há pessoas aqui que estão mesmo mal, a nível mental... Eu não sei como a minha mãe está, não sei se também para lá caminha.. - Disse baixinho, chegando à recepção depois. Mostrei o meu cartão de cidadão, para confirmarem que eu era mesmo o filho e informei que era a minha namorada, a acompanhante. Pouco depois entrámos, e fomos para uma sala de espera, enquanto uma senhora foi avisar a minha mãe que tinha visitas. Disse-nos, antes de ir, que era melhor assim, antes que ela pudesse reagir mal. Sentámo-nos entretanto no sofá enquanto esperávamos

Assenti levemente e entreguei o meu cartão de identidade para eles pôrem no sistema; depois de nos darem uma espécie de colar com "visitante" escrito, uma mulher acompanhou-nos até uma sala branca que era a sala de visitas.
Sentei-me ao lado de Christian enquanto a mulher não voltava com a mãe dele e apertei-lhe a mão levemente.

Abanei a perna enquanto esperava. Um dos meus tiques nervosos. Acariciei a sua mão quando ma apertou e respirei fundo. Vi a mulher a voltar, sozinha. Levantei-me de imediato e suspirei.
- Acompanhem-me, por favor - Pediu educadamente. Olhei para Di e voltei a acariciar a sua mão. Seguimos então a mulher. Quando dei por mim, estávamos num corredor enorme, que continha imensas portas tanto de um lado como do outro. Respirei fundo quando parámos. A senhora destrancou a porta e abriu-a, deixando-nos entrar. Informou que se precisássemos de algo, para pedirmos, em alto e bom som. Mordi o lábio e assenti. A senhora fechou a porta, trancando-a novamente, mas desta vez eu e Di estávamos lá dentro, juntamente com a minha mãe. Ela estava sentada numa cadeira ao canto do quarto branco, baloiçando o corpo ligeiramente para trás e para a frente. Respirei fundo uma vez mais enquanto a olhava - Olá... Sou eu mãe.. - Disse baixinho, largando a mão de Di e dando um passo em frente

Finalmente a senhora apareceu mas vinha sem a mãe de Christian a acompanhá-la; levantei-me com ele e depois seguimos a mulher, entrando num quarto outrora trancado. Ao canto, uma senhora baloiçava sobre o seu próprio corpo, sentada numa cadeira.
Encostei-me à parede enquanto ouvia os trincos da porta serem accionados e larguei a mãe de Chris, observando-os.

- Mãe...? - Perguntei baixinho à medida que me aproximava devagarinho. Ela parou de repente de baloiçar o seu corpo e eu parei de me aproximar dela. Engoli em seco quando a vi olhar-me de baixo para cima, e de cima para baixo. Mordi o lábio e respirei fundo. Estava muito nervoso. Ela levantou-se e ficou a olhar para mim, com uma expressão estranha.
- Mãe?! - Perguntou ela, fazendo uma careta - Mas eu tenho algum filho? - Perguntou igualmente num tom estranho, rindo depois como se lhe tivessem contado uma piada deveras cómica. Parou de repente como se nada fosse e olhou para Di. Apontou-lhe o dedo indicador e esboçou um sorriso matreiro - Quem é esta? Anda cá rapariga que eu não mordo... Muito - Disse ela para Di, voltando depois a rir. Eu engoli em seco e olhei para Di. Afastei-me da minha mãe caminhando na direcção da minha namorada, ficando à frente dela
- Queres esperar lá fora..? Talvez seja melhor.. - Disse baixinho, num tom tristonho

Abanei a cabeça para Christian.
- Não te preocupes. Fala com ela. - disse-lhe baixo e cruzei os braços, olhando para a senhora.

Assenti e voltei a afastar-me de Di, olhando a minha mãe. Não me aproximei dela, apenas fiquei ali pelo meio, olhando-a. - Mãe... Não te lembras de mim? Sou eu, o Christian... Sou teu filho - Murmurei, olhando-a. Ela encolheu-me os ombros e riu-se uma vez mais.
- Não tenho filhos nenhuns. Não conheço ninguém. Sou só eu e o senhor Satanás - Disse toda sorridente, gargalhando. Eu respirei fundo passei a mão pelos cabelos, tentando controlar-me. Puxei um colar do bolso e mostrei-lhe - Por favor mãe, lembra-te de mim... Sou teu filho! - Pedi por tudo que se lembrasse, mostrando-lhe o colar que me dera quando eu era pequeno. Ela nada disse, e aproximou-se de Di.
Olhou para mim de lado e murmurou entre dentes - Não tenho filho nenhum - Voltou a olhar Di e passou a mão pelo rosto dela. Eu fiquei a olhá-la, aproximando-me devagar com medo que lhe fizesse algo

Mantive-me quieta encostada à parede. A mãe de Christian já devia estar com um nível de insanidade mental a caminhar para o avançado.
Deixei que se aproximasse de mim, continuando no mesmo sítio mesmo quando ela levou a sua mão à minha cara, agarrei-lhe no pulso com cuidado.
- Está na hora de se lembrar, Sra... Black. - disse-lhe baixinho, olhando-a nos olhos.
De repente, ela começou a cantarolar uma música e a mexer os dedos da outra mão, aquela que não estava na minha cara.
Arregalei os olhos quando me dei conta dos gestos que fazia. Era como se tocasse um piano.
- Chama a enfermeira... - disse baixo para Christian. - Pede que a deixem ir à sala de visitas, até ao piano. - apontei o botão ao lado dele que chamava as enfermeiras.

Mantive-me quieto e assenti - Está bem.. - Fui até ao botão e carreguei nele umas duas vezes. Assim que abriram a porta, eu saí quase de rompante. Expliquei à enfermeira rapidamente. Eu estava meio agitado - Tudo bem menino Christian, mas tenho de chamar reforços.. - Encolheu os ombros e olhou-me como se estivesse a desculpar. Assenti e esperei que voltassem. - Porque é que não me contaram que ela estava assim? - Perguntei a uma que parecia ser a chefe das outras. Ela lá me explicou que estão a tentar que ela melhore e que não me queriam assustar com tais notícias. Eu apenas respirei fundo e deixei que fossem ter com ela. Fiquei um bocado assustado quando lhe vestiram aquele casaco. A minha mãe não é louca! Esperei que apertassem tudo e segui atrás deles, de mão dada com Di. Estive o tempo todo calado. Sentei-me no banco do piano depois de a minha mãe se sentar, e comecei a tocar o que a minha mãe tocava para mim. Senti as lágrimas a cair pelo rosto quando a ouvi a cantarolar com um simples na na na. Tal como ela fazia para me adormecer quando eu tinha pesadelos.

Depois de transportarem a senhora para a sala que eu falara, fui com Christian para lá. Ouvi-o tocar e a sua mãe continuou a cantarolar a mesma música, parecia a do piano, mas não era.
- Amor, não é essa. - disse-lhe baixinho. - Vai com ela para o sofá falar, eu toco. - disse-lhe e dei-lhe um beijo nos lábios.
Depois de ele se levantar no banco, sentei-me e comecei a tocar a música que a sra. Black tocava. Era uma música de embalar de bebé.
- É uma música de embalar. - disse para Christian. - Perguntava se ela a cantava para alguém.

Levantei-me e ajudei-a a fazer o mesmo, levando-a até ao sofá. Sentei-me no mesmo ao lado dela e permaneci calado, olhando o chão. Estava à beira de começar a chorar que nem um bebé. À Beira não... Já estava mesmo. Comecei a limpar as lágrimas e senti-a a encostar-se a mim - Não chora não, bebé da mãe.. - Murmurou, e eu olhei-a logo. Abracei-a de repente, chorando - Mãe.. - Disse baixinho, soluçando
- Pronto pronto Christian, não chores.. Porque é que estás a chorar? Oh seu tolo..

Engoli em seco quando vi que ambos choravam e olhei para as teclas do piano, olhando depois para Chris.
- Continuo? Para falares com ela? - perguntei baixo.

Olhei para Di e disse que não com a cabeça - Não amor.. Vem para aqui - Pedi, batendo com a mão levemente no sofá. Abracei novamente a minha mãe, e quando Di chegou, fiz as apresentações - Mãe, esta é a minha namorada

Assenti levemente e fui até eles.
- Chamo-me Di. - disse baixo.

Sorri quando vi a minha mãe sorrir - Prazer em conhecer-te! Tu toma bem conta deste chorão.. Ele é meio parolo às vezes, mas é bom rapaz - Disse toda sorridente
- Pronto, agora sou chorão e parolo.. - Abanei a cabeça e acabei por rir

Sorri.
- Acho que é ele que toma conta de mim. - fiz uma pequena careta.

- Nã, não me acredito que seja.. - Disse na brincadeira, rindo depois. Virou-se para o outro lado e começou a falar - Está bem, já vou tomar chá consigo, estou só a despedir-me dele.. - Disse, falando sozinha. Franzi o sobrolho e olhei DI - Vá filho, eu tenho de ir.. - Disse, e depois despediu-se de mim. As enfermeiras lá a levaram para o quarto e eu e Di ficámos ali sozinhos