Los Angeles

Quando cheguei a LA a primeira coisa que fiz foi limpar os olhos. Estivera chorosa durante a curta viagem e Olive continuava com o olhar atento sobre mim.
Saí do avião e peguei nas minhas malas; chamei um táxi e dirigi-me para casa. Os meus pais deveriam estar a trabalhar e os pequeninos estariam no jardim de infância, portanto podia aproveitar para estar sozinha por um bocado.
Deitei-me na cama, com Olive bem junto a mim, e abracei a almofada. Observei o meu quarto e deixei que as recordações daquela altura me levassem para um sono um tanto quanto agitado.

Acordei com Jammie a abanar-me e a dar-me beijinhos na cara.
- Mana! - chamou toda contente e eu coloquei-a nas minhas pernas enquanto abria os olhos.
- Olá princesa. - sorri.
- O Quis? - exigiu logo saber e eu engoli em seco.
- A mana está muito muito chateada com o Quis. - disse-lhe baixo e depois desviei o assunto.

** 3 meses depois **

Contara à minha mãe que acabara com Christian, mas não lhe dissera as razões ou o meu pai ainda pegava na pistola e ia a Las Vegas. Voltara a inscrever-me na escola em que andava para acabar finalmente o ano e andava a fazer um part-time num bar agradável junto a um jardim, para me entreter.
Acordei e vesti-me. Penteei o cabelo que agora estava pelos ombros e ouvi a campainha a soar pela casa; desci as escadas e peguei numa maça, abrindo a porta a Lydia. Ela era igualmente loira, alta e magra e muitas vezes tínhamos passado por gémeas. O cabelo dela era comprido, como o meu outrora tinha sido, e estava ondulado na maior parte dos dias. Como naquele.
- Pronta? - perguntou-me com um sorriso e eu assenti. Deitara a minha vida de Las Vegas para trás das costas e, com isso, tentara esquecer o sucedido com Christian e o próprio. Não pensar nele ajudava imenso, mas por vezes a minha mente traí-me e dava por mim a sentir a sua falta.
Chegamos à escola rapidamente e dirigimos-nos aos cacifos. Acabei por me virar para Lydia.
- Vou só à casa de banho. Espera aqui por mim. - pedi e dirigi-me para lá.

Passei meses a fio à procura de Dianna. E para me ajudar ainda mais, eu mal conheço Los Angeles. Vim aqui uma vez, quando ainda era catraio. Precisava de a encontrar, precisava de lhe pedir desculpa. Embora eu soubesse, bem lá no fundo que talvez as minhas desculpas não fossem servir de nada. Eu tinha feito porcaria, e da grossa. Nunca na minha vida pensei que eu iria fazer uma coisa destas a alguém que amo. Mas, também nunca tinha pensado em me apaixonar, nunca tinha pensado ser capaz de amar. Se calhar nem eu mesmo conheço o meu lado mais obscuro. Eu passei todos os dias dos últimos três meses à procura de Miss Heron. Todas as vilas, todas as aldeias, todas as cidades pertencentes àquele estado. Procurei por todo o lado. E na última, eu consegui finalmente encontrá-la. Pelo que me pareceu, ela tinha regressado à escola. Num dos dias, fui até à sua escola e esperei que chegasse. Quando a encontrei perto dos cacifos, dirigi-me a ela e falei-lhe - Olá.. - Comecei por lhe dizer, sem saber muito bem como continuar - Eu sei que me vais mandar embora à mesma, mas eu quero pedir-te desculpa pelo que te fiz.. Não foi por mal, a sério.. Quer dizer, eu nem sei.. - Suspirei pesadamente e desviei o olhar

** Lydia on **
Ouvi uma voz masculina bem perto de mim e virei a cabeça quando o pequeno discurso acabou.
- Desculpa? - perguntei, confusa. - Conheço-te? - arqueei o sobrolho.

- Ahm.. Mas agora finges que não me conheces? Eu percebo que não me queiras ver sequer, mas não é preciso fazeres isso, Dianna - Afirmei, olhando-a melhor. Estava igual, mas diferente

** Lydia **
Arqueei o sobrolho.
- Okey, isto não é a primeira vez que acontece. Sou a Lydia, não a Di. - encolhi os ombros e fechei o cacifo.
Abri o cacifo da Di e apontei a foto que lá estava.
- Esta é a Di - apontei para a minha cara - Eu sou a Lydia. - voltei a encolher os ombros e peguei no caderno dela, assim como no estojo e depois fechei o cacifo.

- Han? - Perguntei confuso, franzindo o sobrolho
- Agora tens uma gémea que eu desconheço? Oh Dianna não brinques comigo.. - Afirmei, achando tudo aquilo muito estranho. Mas a verdade é que, por mais que a suposta Lydia fosse parecida com Di, ela não era igual a ela, nem como ela

** Dianna on **
Ouvi o toque e guinchei, acabando de pentear o cabelo à pressa para o amarrar. Acabei por desistir e abri a porta de rompante.
- Shit, Lydia, estámos atrasadas outra vez. - disse alto, fechando a porta atrás de mim. Parei quando vi que ela estava acompanhada. Por Christian. 
Vi Ethan a passar.
- Ei, pera aí, Ethan. - pedi e fui tirar o meu caderno e o meu estojo a Lydia. Puxei-a cuidadosamente pelo braço, ignorando Christian, e indo com Lydia e Ethan para a aula.

Fiquei perplexo quando vi a a Dianna. Raios, a moça tinha razão. São mesmo parecidas! Fiz uma careta e ergui o sobrolho quando as vi acompanhadas por um gajo qualquer, que, pelo que a Dianna disse, se chama Ethan. Não pude deixar de comentar para mim mesmo aquela situação - What the fuck?! - Continuei a olhá-los até os perder de vista. Olhei em redor e encolhi os ombros

- Quem era aquele? - perguntou-me Lydia enquanto caminhavamos para a aula.
- É... o meu ex... - disse baixo e bati à porta da sala; eu e Lydia entramos primeiro e depois entrou Ethan.

A aula passou a correr, e ainda bem. Saí da sala com Lydia e levei a mão ao meu cabelo curto. Dirigimos-nos ao cacifo e abri o meu, atirando com o meu caderno lá para dentro.

Fiquei todo o tempo da aula à espera dela, no mesmo sítio. Estava sentado num banco, ligeiramente afastado dos cacifos onde Lydia tinha estado. Assim que as vi novamente, aproximei-me agora de Di. Agora sim, era ela. Cortou o cabelo? - Olá.. - Murmurei, já perto dela

Mantive-me a arrumar o cacifo quando a voz de Christian soou junto a mim.
- O que estás aqui a fazer? - perguntei com um tom de voz frio e distante.

- Tenho andando este tempo todo à tua procura, por todo o estado - Afirmei enquanto a olhava - Eu quero pedir-te desculpa, pelo que te fiz.. E já agora, acho que pedi desculpa à pessoa errada, antes de ires para as aulas..

Virei-me para ele.
- Achas que umas simples desculpas vão apagar tudo aquilo que me fizeste? - perguntei, repugnada.

- Não disse isso, Dianna - Afirmei enquanto a olhava nos olhos. Não estava a pedir desculpa com a intenção que ela esquecesse o que eu fiz. Nem eu esqueço, quanto mais ela

Arqueei o sobrolho.
- Então explica-me o que vieste aqui fazer. E tens cinco minutos porque eu tenho que ir. - cruzei os braços e olhei Lydia, que se encontrava a remexer no cacifo.

- Pedir-te desculpa, ver como estás, tentar remediar a porcaria que fiz.. - Disse resumidamente enquanto a olhava. Ela está diferente...

- Estou melhor que nunca, obrigada pela tua preocupação. E a primeira e última razão de teres aqui vindo parecem ser as mesmas. - encolhi os ombros e peguei na mala com o equipamento de educação física. - Se estás a tentar que volte, podes esquecer. Voltei a ter a minha vida de volta e quero aproveitá-la sem masoquistas. - disse baixo. Ninguém precisava de saber o que ele fazia e eu também não queria armar escândalo ou ser assunto do momento naquela escola.

Fiquei ligeiramente irritado e perturbado com o que ela me disse - Ai sim? Que bom para ti. Peço desculpa se eu estava a interromper a tua vida então. Volta lá à tua vida dos contos de fadas, força. E já agora, é sádico. E é sem essa expressão como se estivesses a dizer que sou um monstro. Não sou um monstro, ok? Volta lá à tua vidinha, e peço desculpa pelo incómodo! - Afirmei irritado, afastando-me de imediato

- Vai dar ao mesmo.
Toquei-lhe no braço e aproximei a boca do seu ouvido.
- Violaste-me, Christian. Isso faz de ti uma espécie de monstro. - afastei-me um pouco. - E eu nunca te vou perdoar pela dor que me causaste. - disse num tom frio.
Fechei a porta do meu cacifo e Lydia colocou-me a mão no ombro; respirei fundo e encostei a testa ao metal frio do cacifo, fechando os olhos.

- Estavas mortinhas por me chamar isso, na cara, não estavas? Obrigado aí, já posso ir morrer em paz. Sou oficialmente monstro! - Disse ainda irritado - Mais alguma coisa que me queiras dizer ou chamar? É porque esta é provavelmente a última vez que me vês - Informei, mas ela ignorou e foi ter com a sua amiga. Virei-lhe as costas e saí dali enervado e furioso

Engoli em seco ao ouvi-lo todo furioso. Eu é que sofrera nas mãos dele e ele é que ficava todo chateado?!
- É para informar que não temos aula. - veio Ethan até nós.
- A sério? Obrigada. - Lydia sorriu-lhe. Ela era completamente apaixonada por ele mas sabia bem como não fazer que se notasse. Admirava-a por isso.
- Vamos embora. - pedi baixo para Lydia, segurando a mala contra mim. Ela assentiu e despedimos-nos de Ethan, saindo da escola.
Ia a atravessar a rua quando Lydia gritou o meu nome e eu me assustei.
- Lydia, olha aí o susto. - resmunguei, com o coração a bater a mil à hora.
Ela correu até mim e, quando já estavamos a salvo no passeio, ela olhou-me.
- Que se passou com o teu ex? - perguntou baixo.
- Nada que eu queira falar, desculpa. - pedi-lhe baixo e caminhei com ela para um jardim que passava perto de nossa casa.

Eu já sabia que tinha muitos defeitos e que não era a melhor pessoa do mundo. Eu sempre me achei um monstro, mas ela foi a única pessoa que me fez pensar que eu não era nada disso. E de repente, era ela que me chamava esse nome na cara. Por muito mal que tenhamos feito, dói sempre quando alguém que amamos nos diz isso na cara. Eu sei que ela tem razões para o fazer, mas não deixa de doer. Caminhei apressadamente e ainda furioso com aquilo tudo. Não sabia para onde ir. Eu estava hospedado num hotel ali perto, mas agora não me apetecia nada ir para lá, nem ver pessoas, muito menos ter de falar. Fui literalmente para o meio da estrada e caminhei por lá. Os caros buzinavam e desviavam-se de mim. As pessoas olhavam, mas eu não me importava.

Sentei-me num banco e, em silêncio, dei por mim a chorar, com Lydia a abraçar-me com força. Solucei, querendo parar, mas sem conseguir. E Lydia continuou ali, abraçando-me, sem dizer uma simples palavra para que eu justificasse todo aquele choro.
Ouvia imensos carros a buzinarem mas nem por isso me atrevi a abrir os olhos.
- Está um maluco no meio da estrada. - ouvi um rapaz dizer alto, enquanto os carros continuavam a buzinar sem parar.